A classe média, têm este truque irritante, que consiste em falar de tudo, seriamente. Como quem tem capacidade para, sobre qualquer tema, ter uma posição racional e temperada. Se discutem, concedem ao oponente vários argumentos como válidos, apresentam os seus, baseados sabem lá em quem e esgota-se a conversa em poucos minutos.
O consenso é inevitável pois a conversa é média, tratada de forma racional. Chegam depressa ao denominador comum, pequeno, mas fácil de achar e de seguida, livres da conversa séria que fortalece os laços de amizade e o sentimento de cidadão adulto, partem para os copos cheios com conversa ligeira onde, sem se aperceberem desfazem a porcaria toda que estiveram a dizer.
Em todo o ajuntamento há disto.
Existe em duas formas. Aquela em que se começa com a piada ordinária e se acaba a concordar nas questões realmente importantes. A outra, é inversa. Começam na conversa séria e, sossegados, sentem vontade de humanizar o convívio.
É a carne e o espirito. A tendência que o intelectual têm para dizer piadas fracas e falar sobre aventuras pessoais ridículas e a tendência do pobre de espírito para elevar a cabeça ou a voz.
Porque, merda deste e doutro mundo, querem ser humanos!
Então, chegamos aqui, á classe média que invadiu tudo. A classe média conhece e acede ás coisas do espírito e sente e escorrega para as coisas mundanas. E como tudo o que é muito difundido passa a ser de muita gente, perde inevitavelmente algumas qualidades pela sublimação de apenas algumas. É isto a classe média.
Por exemplo os senhores Marilyn Manson. Quando um dia vieram ao Alentejo, nos dias anteriores e seguintes, já muita gente falava deles. E os comentários começaram a uniformizar-se. Era o tipo que fazia isto e aquilo, que dizia isto e aquilo e o que ficou deles agora, quando os vejo, é o mesmo que toda a gente disse ou viu.
Current 93 em Lisboa, em Abril. Dois concertos, sexta e sábado, com Baby Dee como "special guest".
À alguns anos vi-os no Paradise Garage. Anos depois perdi-os no Teatro Ibérico. Em Abril volto a encontrar um grupo de culto e cultos. Um grupo que me fez ganhar algum respeito pelo Folk e que apesar da imbecilidade da maioria dos grupos do Neo Folk ou Dark Folk ou Dark QualquerCoisa ou coisas que os valham, é único.
Leio o texto de apresentação do País Relativo e fico na mesma. Parece que foi um texto feito ao contrário: primeiro fizeram os links, depois meteram palavras para os juntar .
Gosto mais do meu texto de apresentação, uma coisa educada: "Bom dia".
Talvez já venha tarde.
Mas só assim é que se pode ser conservador, ter razão na altura devida.
Talvez se perceba agora que o assunto da legalização do aborto em determinadas circunstâncias, parece começar a ser consensual. Excepto na coligação governamental e no país !
O meu único medo, neste assunto e em todos os outros, é que a questão se resolva pela banalização do assunto.
Os que se benziam perante tal imagem, acostumaram-se. A ideia, a imagem deixou de chocar. De tanto a ouvirem já não os fere.
Os que eram a favor, são mais moderados. Cansaram-se do ideal ou talvez tenham percebido que nem todos os que não concordam, são de direita fechada a ferrolho em casa.
Paciência ou falta dela, é que não tenho para cristãos novos ou gente que quer fazer literatura sobre o assunto como vi em muitos jornais.
Seja como for mais um caso em que ninguém resolveu nada. Foi o tempo.
Costumava gostar de vozes pouco virtuosas, pareciam-me melhores para cantar, e as outras, para circo.
Os que cantavam sem virtuosismos estavam livres da tentação de ir atrás do solo desnecessário e parecia-me estarem sempre mais perto do limite. De qualquer coisa. Mas sobretudo porque, como diz uma dessas vozes: "There is a crack in everything, that's how the light gets in".
Costumava pensar assim. Ainda penso. Apenas três excepções: as vozes de Diamanda Galas, Antony e o piano do Glen Gould nas Variações de Golberg.
Era uma senhora do Bloco de Esquerda e via-se que já tinha acabado a Licenciatura de Deputada. Ontem, num debate na televisão á seguir ao 1º canal.
Não estava muito convencida do que dizia, sempre a olhar para todo o lado menos para onde devia, não estava á vontade com o que lhe saía. É natural, as palavras não eram dela.
Ou foi Licenciatura ou curso de formação interno, não sei.
Emociono-me com fogo de artificio e explosões no céu. Uma ida a Marte deixa-me feliz. Criaram esta ideia de que a humanidade pula e avança com a conquista no espaço. E eu sinto.
E a Lua? Não fizemos nada com ela. Não serviu para nada. Só lá puseram o pé. Vamos para Marte sem passar pela Lua.
Depois de Bush dizer que íamos para Marte, lembrei-me que, quem vai são dois ou três americanos.
O resto fica cá.
Uma boa notícia. Novo disco, Degenerate Introduction, dos Dub Narcotic Sound System.
Um dos grupos que estou sempre á espera que façam um grande disco. Nunca fazem.
Pouco me separa de David Justino, Martins da Cruz, Isaltino Morais e demais ministros deste ou de passados e futuros governos que se demitiram ou fizeram trapalhadas pouco recomendáveis a quem quer ser ministro do país.
Em inteligência, fico a ganhar. Não acredito em quem acho os outros mais inteligentes. É coisa de burro. Pois se não lhes conheço a cabeça sei lá que tortuosos caminhos ou dificuldades ou plágios fizeram para chegar a mim.
Em asneiras, empatamos. As que faço, fazem mais mal a mim dada a incapacidade de me salvar das consequências e por não levar a sério o Greenpeace o mal que faço á natureza. Talvez ganhasse, mas desde criança que me dizem que quem está em situação de abusar, abusa.
Em posição, ambos direitos, estamos muito distantes. Eles, exercem cargos pelo país, decidem conforme a consulta popular ditou, representam-me. Conhecem variadissimas coisas que desconheço e têm acesso a muitas outras. A vida é lhes mais doce.
O que fizemos, ambos, para aqui chegarmos foi pela infelicidade ditado. Nem eu nem eles tivemos mérito, visão, ou divina mão no caminho. Foi infelicidade minha, puro acaso o deles. Onde estão eles podia estar qualquer Taxista com o frequência doescolar ( já viram a composição da Assembleia da República ? ).
Mas a ambos a memória honrará. Eu ficarei escrito em alguns papéis eles noutros. Só lembrados na medida temporal de qualquer homem, esquecido ao fim de umas dezenas de anos.
Pedir mais, era compara-los a outras memórias.
Isto é a infelicidade, a minha. A vida e a memória.
A tragédia, é quando o último homem bom que conheço, morrer, não ficar memória, para além da minha.
Por não resistir a telefilmes em geral e particularmente a porrada medieval e vidas em tribunal, vi um filme sobre a Joana D'Arc que deu ontem na televisão. E lembrei-me de uma letra de uma música dos Smiths.
Como nunca prestei grande atenção ao que dizem as letras, ficam-me alguns bocados, que, por razões estranhas guardo durante muito tempo, alguns, fazem com que leia o resto da letra da música, outros, decorando a cabeça ficam por lá sem razão. Até um dia.
A parte da letra de que me lembrei ontem, nunca a percebi mas nunca a esqueci. Ontem descobri-lhe o sentido.
Se era bruxa ou santa, não me interessa. A dúvida surge na fogueira.
Eu acho que as vozes que ouviu durante a vida lhe deixaram de falar ao ouvido, nessa altura. Ou que não existem vozes. Mas deixar de as ouvir naquela altura é castigo divino.
And now I know how Joan of Arc felt
Now I know how Joan of Arc felt
As the flames rose to her roman nose
And her Walkman started to melt
(bigmouth strikes again-the smiths)
O que fica de fora quando se compara a guerra entre Israel e a Palestina e outras guerras, são os judeus sem terra.
Não existe país assim, com mais gente fora do que dentro.
Porque Israel foi fundado pela religião, é a terra dos Judeus. Um país que está em todo o mundo, uma questão que é universal.
O problema de Israel são os israelitas que vivem fora do país.
How goes it? It goes slowly ... it goes slowly trough the night
Hoje, num jornal diz-se que o mundo está a dar sinais de que vai melhorar, no Líbano, na Síria, na Índia, no Paquistão. Todos lá para o mesmo lado. Tudo sítios desgraçados.
No mesmo jornal, diz-se também que em Portugal, estamos na pior crise desde o 25 de Abril.
A ideia de que o mundo estava mal, ou está mal é uma ideia inocente. O Mundo não pode estar mal ou bem. O mundo ou está ou não está, e estando, tudo o que estiver não pode ser avaliado ou julgado.
Portugal é coisa diferente. Pode julgar-se o governo, pode avaliar-se o percurso da economia, das empresas e das instituições. Mas também não sei se estaremos na pior crise, acho que sim. Mas tal como no mundo, em Portugal, nunca houve tanto para tanta gente, o ritmo a que a coisa cresce é que é desesperante, o ritmo a que a coisa cresce é que é decrescente.
E chegados aqui, será cada vez mais difícil. Talvez estejamos no limite das nossas possibilidades. A Síria, Paquistão e outros, não.
É como acabar uma página, cá em baixo, virar a folha e continuar no cimo da nova. Depois, é sempre a descer.
Com o tempo alguns problemas desaparecem: já não há droga no mundo e já não tenho problema em passar o dia 31 de Dezembro em casa.
Com o tempo, a droga que conheci acabou-se. Seja porque já não a vejo, seja porque as pessoas que conhecia deixaram de a ter, ou morreram ou desistiram. Portanto, é coisa que o mundo conseguiu resolver.
O dia 31 de Dezembro já não me aflige, e já não traz a desconfortável descompressão do dia 01. Foi também coisa resolvida.
Vamos lá, então, ver o que me resolve o ano.